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Grande amigo Raphael, que pergunta foi essa?
Você, um habitual parceiro de projetos acadêmicos, já deveria saber que, além de gostar de crianças, eu sempre fiz e ainda faço muito sucesso entre essa galerinha. E por falar em projetos acadêmicos, foi exatamente este motivo que nos levou ao Festival Internacional de Teatro de Objetos, o Fito, ainda sem um tema pré-estabelecido, porém com a idéia fixa de inovarmos no nosso trabalho (em relação ao que fizemos anteriormente), sem falsa modéstia ou pretensão. Em um evento de três dias, recheado com companhias teatrais de todo mundo, além da apresentação do cantor Tom Zé, pensamos que seria fácil achar qualquer pauta. Mas, o que chamou a nossa atenção não foi nada disso e sim a presença da criançada, escandalosamente a maioria entre as pessoas presentes na Serraria Souza Pinto, local deste singular evento.
É, meu caro, nenhuma criança ali tinha o conhecimento de como os atores misturavam artes plásticas, bonecos, objetos do cotidiano como copos, torneiras e garrafas por exemplo, inventando desta maneira
histórias lúdicas, contadas de forma bastante inusitada. E isto realmente não fez a menor diferença, nem interferiu no entretenimento da molecadinha. Como você dissestes amigo, o fascínio pelas cores, bem espalhadas pela Serraria, e por toda aquela parafernália, igualmente bem distribuída pelo local, intrigavam suas cabecinhas, que ainda não tem a função de atribuir uma imagem ao seu respectivo signo. Pois é, tenho certeza que o amigo completaria de maneira sucinta dizendo: “ah, Zé, esta função eles deixaram exatamente para seus pais”.
Por que digo isso Rapha, meu garoto? Porque ainda lembro os meus tempos, aqueles tempos juvenis, que me remete ao espetáculo do Jaspion realizado no Mineirinho, à extinta TV Manchete, transmitindo maravilhosos e coloridos seriados e desenhos japoneses. E também Kiss, igualmente fantas
iados e coloridos. Mas deixemos pra lá, como você me chamou de romântico e sei do peso desta fama. Ao seu pedido tentarei contar um pouco da emoção presenciada no Fito deixando de lado o passado.
Voltando ao assunto...
Ai, pais... Ê, pais... Perderam a oportunidade de se divertirem sem ter a obrigação de brincar, se embasbacando com os objetos e histórias, e por quê não de disputar uma simples corrida no corredor, hein?! Opa, opa, mas calma aí! Brincar, interagir, pular e conversar, correr de mãos dadas com estranhos não é algo perigoso? Sim, é. Porém, só no mundo onde vivem os workaholics, os comedidos, os tradicionais, os egocêntricos, os profissionais, os compromissados, ou seja, no famoso mundo dos adultos, onde hoje já é o nosso lar e que em breve também será destes meninos e meninas.
Vendo o céu se tornar vermelho, senti toda a alegria que tinha extrapolando, transcendido, fu
gido das salas de espetáculo e ganho os corredores. Estava desaparecendo, deixando assim,
cada vez menor número de traquinagens, pequenices e espontaneidade, no recinto. Quando o céu finalmente mostrou sua imponência totalmente negra, ai sim, o cheiro da boa bagunça se esvaiu, dando lugar à frivolidade dos jovens e maduros adultos. Visivelmente interessados no último espetáculo do dia: o show música/contra música de Tom Zé, os jovens e maduros adultos curtiram até o final seu particular espetáculo, enquanto as crianças
carregadas no colo ou nos ombros de seus pais foram tirar uma
singela sonequinha. Talvez fosse mesmo a hora de dormir, talvez a essência do Fito fosse embora junto com eles, mas este foi o primeiro dia apenas, mais dois dias de evento estavam por vir e ainda há muitas histórias para serem contadas ainda.
É, Raphael, ah se fôssemos 10 anos mais novos... ah se fôssemos...
1 comentários:
Meninos,
vocês surpreenderam...e de maneira deliciosa, despretensiosa, feliz!
Parabéns pelo post.
o comentário é duplicado abaixo.
Um beijo,
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